Fortaleza e recuperação de património
A valorização do nosso património é uma alavanca para o desenvolvimento de Peniche. Devemos apostar nisso sem hesitações. Potenciar o turismo, dinamiza a economia, dá dignidade à nossa terra e reforça o nosso orgulho em ser de Peniche.

Debate-se a concessão parcial da Fortaleza de Peniche a privados. Sejamos claros: não cabe aos dirigentes nacionais do PCP decidir ou condicionar o futuro de Peniche. Para mim, como penicheiro, isso é inaceitável. Particularmente chocante foi ver como na Assembleia Municipal os dirigentes comunistas locais recusaram ir contra o comité central e também eles - apesar das proclamações de anos - votaram na sua maioria contra as moções de apoio apresentadas por PSD e PS.
A Fortaleza de Peniche é um símbolo incontornável da nossa terra. Às décadas sombrias como prisão política e aos séculos como baluarte da defesa da nossa costa, sucederam as últimas décadas, de uma degradação contínua, rumo à indignidade. A história da Fortaleza parece ter parado, presa a memórias que são sem dúvida duríssimas e dignas do nosso maior respeito. Mas o que lá está nem sequer é digno dessas memórias.
A história da Fortaleza deve continuar e creio que é essa a vontade da esmagadora maioria das pessoas de Peniche. Sucederam-se projectos de revitalização nas várias câmaras, sem que nenhum tenha chegado a bom porto. Há cerca de 15 anos, surgiu a esperança de que ali fosse construída uma Pousada de Portugal. Não vingou, por falta de garantias de sustentabilidade ao longo da última década.
O Estado não tem dinheiro para a recuperação do nosso património. É verdade que, ao contrário do actual Presidente da Câmara, entendo que a Câmara se deve tentar substituir ao Estado (como fizeram muitas pelo país fora) e investir fundos próprios na recuperação do património, recorrendo a fundos europeus sempre que possível.
Só que, além da Fortaleza, temos muito outro património para recuperar, começando pela Muralha, que em vez de nos orgulhar, nos envergonha pelo estado de abandono em que se encontra. Sem sairmos da cidade, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios precisa de uma intervenção urgente. Também a Igreja de São Leonardo, na Atouguia da Baleia, carece de intervenção, para citar apenas alguns dos exemplos mais significativos.
É por isso que, tendo surgido uma nova oportunidade para a Fortaleza, através da abertura de uma linha de crédito para a recuperação daquele património por parte do concessionário, é nosso dever agarrá-la sem hesitações. Já perdemos demasiadas oportunidades por causa das vistas curtas e da falta de ambição do PCP.
Defendo uma gestão partilhada da Fortaleza de Peniche, inspirada no modelo da Cidadela de Cascais. A concessão de uma parte do imóvel para a instalação de um hotel não impede a manutenção da identidade da Fortaleza, como chave da defesa da costa e como farol da resistência ao fascismo. O equilíbrio entre a memória, a dignidade e a valorização não é apenas possível: é um imperativo.
A valorização do nosso património é uma alavanca para o desenvolvimento de Peniche. Devemos apostar nisso sem hesitações. Potenciar o turismo, dinamiza a economia, dá dignidade à nossa terra e reforça o nosso orgulho em ser de Peniche.
Filipe de Matos Sales
Vereador do PSD na Câmara Municipal