Ser Cidade, Peniche para o cidadão
Estou certo que todos nós gostaríamos de
viver numa cidade mais digna. E tantas coisas se poderiam fazer para melhorar a
qualidade de vida e aumentar o bem-estar de toda a população. Chega de inacção!
Mãos à obra!
A categoria de cidade está reservada a um grupo de localidades do nosso País a quem foi reconhecido esse estatuto mercê de um conjunto de atribuições e infra-estruturas que lhe garantem um alto estatuto de qualidade de vida.
Cidade não é apenas uma localidade onde habitam alguns milhares de pessoas, onde se encontram alguns serviços e onde se situa a sede de um concelho.
Para se ser cidade, para além dos quesitos previstos na Lei, é necessário que se viva a urbe, isto é, que haja o sentido cívico de se sentir comunidade, e um nível de qualidade de vida no mínimo aceitável.
Quando em 1986, por iniciativa do deputado Reinaldo Gomes, a Assembleia da República aprovou a elevação de Peniche à categoria de Cidade, todos exultámos com a distinção até porque se sentia a esperança de que essa iniciativa traduzia a vontade dos seus cidadãos numa crescente melhoria do seu bem-estar e bem-sentir.
Infelizmente, trinta anos passados, Peniche não só não cresceu equilibradamente sob o ponto de vista urbanístico, social, económico e cultural, como em muitos desses campos teve um retrocesso assinalável.
Perderam-se alguns dos serviços que então existiam, a urbe cresceu desordenada, não se aprovou nenhum instrumento de planeamento, muitas das infra-estruturas que se construíram não possuem a qualidade mínima exigida para um bom serviço, o comércio está em acentuada agonia, o espirito associativo vive com enormes dificuldades, a pesca está num coma profundo, a zona do fosso da muralha (onde se gastaram quase quatro milhões de euros) está completamente desaproveitada, a área circundante à Fortaleza não tem qualificação pelo desprezo a que foi votada, o turismo é meramente encarado como panaceia sazonal, a circulação automóvel e estacionamento são cada vez mais anárquicos, as pobres ruas estão num estado calamitoso cheias de buracos e remendos, as redes de distribuição de energia e sinal de cabo são instaladas de qualquer modo e sem cuidado, é mais frequente ver-se "nascer" postes toscos de madeira ou cimento nas principais artérias do centro urbano do que árvores, os ditos "complexos habitacionais" não passam de eufemismos para apelidar verdadeiros bairros de lata situados mesmo no centro geográfico da península, as zonas ajardinadas encontram-se desfalcadas das suas tradicionais palmeiras, enfim, podia-se aqui elencar muitíssimos mais argumentos negativos que diminuem o sentido de ser cidade desta localidade.
É tempo de reverter toda esta miséria proveniente de anos de falta de investimento, criatividade e acção! Todos não somos demais para isso.
Estou certo que todos nós gostaríamos de viver numa cidade mais digna. E tantas coisas se poderiam fazer para melhorar a qualidade de vida e aumentar o bem-estar de toda a população. Chega de inacção! Mãos à obra!
Francisco Salvador
Membro da Assembleia da Junta de Freguesia de Peniche